Encarando-se (poema)


                         ENCARANDO A SI MESMO 

Fui dar uma mijada
Amarela, opaca.
Deixei o ar condicionado;
/Deixei meu quarto fechado.../
Mas não "lacrado".

A escuridão por fora,
As paredes brancas por dentro.
A por me encara. 
Dedos que não consigo ver
Me tocam;
Me avisam
Para voltar 
Para o banheiro...
Só que sem encarar
Meus próprios olhos no espelho. 

Ignoro. 
Abro.

Pisco por um segundo eterno.
Mesmo com o ar condicionado,
Nesse único segundo,
Percorreu pelo meu corpo
Através do meu respirar
O quente ar
Do inferno.

----------- Abro... 
             os
                  o
                     lhos.

Vejo um estranho sentado 
Olhando para o teto,
Esperando que eu o encare nos 
O
    lhos.
Mas ele parece não ter rosto.
Todos os meus ossos
Enrijecem...
Para então moverem-se 
Sozinhos.

Meus músculos 
Do rosto
Esticam-se sorrateiros...
Estampo um sorriso 
De medo. 

Me aproximo em passos curtos.

Ando,     ando
 ando,
.
Dois    metros
mil
Dois mil metros
.

Ele escurece...
O corpo, pelo menos.
Pois sob um escuro tronco
Indefinido
Está o MEU rosto...
tOrTo,
Mas meu.

E quando ele abaixa o queixo,
Sua presença se esvai...
derrotado. 
E é aí em que novamente me       mexo.
Olho a negridão da noite de terça-feira... 
E nem ao menos sinto-me perplexo.


...
...
...

          - Isso me soa uma história familiar... A letra daquela banda hippie de drogados ocultistas dos anos setenta, que você gosta... Plagiador. - disse-me com um sorriso convencido, mostrando o quão nojenta pode ser a face da inveja.

          Mostrei a poesia ao meu colega de faculdade, contando o que havia realmente acontecido, só que sem explicar que havia um sentido além do que fora rasamente capturado por ele. Talvez por, possivelmente, aquele pobre coitado de olhos pequenos nunca ter passado por uma necessidade específica de adquirir um nível mais elevado de auto-conhecimento, rompedor de paradigmas.

         - Mas aconteceu. Eu fiquei paranoico, pelo menos, e achei ter acontecido.

         - Não se encare no espelho... Cuidado! HAHAHA! Que imaturo. Acho que você precisa tirar um tempo para se conhecer melhor... Parar de pensar em coisas que te deixam tenso; parar de tentar criar forçadamente, para evitar clichês de terror em seus poemas.

 - Errei - 

Subestimei -------
Meu medo,
Minha luta
Comigo mesmo,
E com o demônio 
Que dentro de mim descansa. 
Havia, agora, virado chacota.
Só ri...
E escureceu.

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