Estrada Esburacada (poesia)



Eu sou como uma rua:
Alguns andam pelos meus lados;
Alguns passam por sima de mim,
Sem nem importarem-se.

Minha alma é cheia de buracos.
E, dependendo
do tempo
Sou seco, ou molhado...
Sempre duro, como concreto;
Porém enfeitado,
E também quebrado.

Cada transeunte
Quer me explorar
Como se eu,
Fosse uma puta.
Afinal, pagam-se pelas ruas,
pagam-se pelas putas...
Todo homem tem o seu preço.
  E eu também tenho meu preço. 

Sou como uma estrada histórica,
Que recebe cada dia mais e mais pessoas,
E lembra-se de poucas delas
Assim
Como poucas delas lembram-se de mim...
Mas, certamente já me pisaram
Com seus pés encardidos.
Assim como eu passei por sima de outras
Pessoas;
Ruas;
Putas.
Evidente que paguei por tudo isso;
E fui pago, também.

Tenho cantos obscuros,
Onde a luz não chega,
Onde a feiura não pode ser vista,
E a beleza não importa.
Sou um homem que viveu nas estradas,
Nos becos,
Dormiu em paradas
De ônibus;
O tipo que sempre esperou
pela carona que vinha dos céus...
E ela nunca chegou.

Posso estender-me
Por um fluxo contínuo
Sem parar
Até o mundo
- ou o caminho -,
Ou a minha vida...
Chegarem ao final.
Só basta aceitar
O que vier primeiro. 

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