Felicidade artificial em um triste domingo (conto)



          Em mais um domingo em que tudo parecia conspirar para que a diversão não viesse ao meu encontro - já que o mundo se demonstrara de maneira recorrente independente de mim, de todo o jeito -  decidi ir ao encontro da diversão e da alucinação. O álcool, afinal, já não era mais um bom amigo, e me matava aos poucos, me queimando internamente e corroendo minha alma. No encalço de uma sombra quase apagada, percorro estradas que ao mesmo tempo em que são tão únicas, também são tão parecidas que me levam à perdição. 

          Repetidos eram os domingos onde o silêncio nos cômodos de minha casa eram preenchidos apenas com a minha respiração cansada, e com os nada confortáveis sons vindos da rua - que me faziam imaginar seu real e profundo sentido. Já cansara da música: Tudo parecia não ter mais graça... Tudo já havia se tornado monótono no dia em que todos descarregam suas emoções, antes de se darem conta que a maior monotonia está para revisitá-los no dia seguinte. 

          Saí sem rumo e sem esperança de que algo seja diferente em relação aos outros passeios insensatos que fiz por todas essas ruas. Tudo que me cercava era tão familiar, e futuramente pareceria, talvez, um tanto assustador. As pessoas de origem desconhecidas carregam um mistério que somente aqueles com inquietação ou insanidade perdem tempo para se questionarem. 

         Sigo o passeio por alguns minutos, adentrando aquela parte da cidade onde os preconceituosos, porcos e fascistas não arriscam-se a intrometer-se. Com apenas alguns trocados em meu bolso, não vejo motivo para preocupação. A expectativa para que tudo se concrete é maior do que em qualquer outro momento já vivido naquele interminável dia.

          O sol, mesmo que um tanto acobertado por densas nuvens, parecia me contemplar e banhar de esperança. Logo, isso se tornaria momentaneamente a visão do meu anseio por aceitação - já que o mundo parecia me achar entediante o bastante para me ignorar. Como romper o tédio? Continuando a caminhada, depois de uma pequena pausa. Logo, tudo se tornaria uma jornada interminável, comprimida, e distorcida, em apenas um domingo em que o resto do mundo contemplava tudo, exceto o meu insano "lazer". 


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